12.7.09

The first ascent

Sexta feira, 3 semanas sem escalar e já recuperado de uma lesão no dedo, viro para o meu colega de trabalho no fim do expediente e digo: “nunca fiquei tão feliz por chegar o fim de semana”.

Sábado 8 horas da manha e a chuva não parou. Nada que me desmotivou, a aposta é de chuva de manhã e sol com vento a tarde, perfeito para fazer boulder em alguma costão. Nada! Chuva o dia todo e fico em casa assistindo filme de escalada. A escolha foi o tal “The First Ascent” pela décima quinta vez ou mais, e foi no meio do filme que comecei a lembrar meu primeiro first ascent (FA). Afinal, o que é o tal FA?

O que muito escalador nunca parou pra pensar é que não é simplesmente a primeira ascensão de uma via, o FA é muito mais que isso. É a superação, a emoção, a tão desejada primeira. É aquela que nunca vamos esquecer e muitas vezes fica na história para sempre, mais ou menos como a primeira (o) namorada (o), a primeira paixão. Poder ser o primeiro a escalar uma via é a glória que só o escalador sente e não precisa de ninguém para ovacionar, uma sensação de conquista, adrenalina a milhão e a felicidade maior que aquela de quando se ganha a primeira bicicleta.

O meu primeiro FA, talvez não o primeiro, mas foi o primeiro FA de grande importância para escalada, uma via aberta por um “escaladorzinho” que em 2002 fez uma breve passagem na região de Londrina e deixou sua marca. Este “escaladorzinho”, com uma perna dura, era nada mais nada menos que o grande maestro Bito Meyer. A via se chama Campo Liso e fica na pedreira de Londrina ao qual é palco de um dos maiores eventos de escalada do país (já esta na décima edição), alias, foi um desses encontros que trouxe o lendário escalador para a região.

A via ficou lá por muito tempo e muitos já tinham desistido de tentar encadenar alegando que era uma via impossível e que não havia agarras, era tudo liso... Naquele mesmo ano, um pouco antes de vir pra Floripa fiz algumas tentativas e não passei do crux, estava além da minha escalada. Contudo, uma ou duas vezes por ano eu voltava para região e fazia algumas tentativas sem sucesso, até que no quarto ano (seguido) eu prometi que não sairia de lá sem a cadena.

Foi um dia inteiro tentando, talvez 7 ou 8 pegas, alguns diziam para eu desistir porque já estava cansado, mal chegava no crux. Foi aí que eu descansei bem e antes de entrar na via, de frente pra rocha, fechei os olhos e mentalizei todos os movimentos e fui. Comecei perfeito, todos os movimentos minuciosamente calculados até o crux, não tinha dado nenhum pega tão perfeito quanto aquele. Antes de entrar no crux fechei os olhos novamente e me imaginei mandando. Ultima passada de maguinésio, determinado fui e mandei o lance.

A via não acabava por ali, ainda tinha mais um lance de reglete e depois dominar um teto, as mãos abrindo e eu tentando respirar mas a única coisa que conseguia era alguns suspiros parecido com aqueles carros com turbo, foi então que saiu um grito de força e o teto estava dominado. Os braços tremiam, o coração parecia que ia sair pela boca e mal conseguia costurar a parada, confesso que meus olhos se encheram de lágrimas por um instante. Não sei porque mas me lembro que veio a cabeça a musica do metálica "The Unforgiven", sei lá, as vezes a adrenalina faz isso com a gente.

Aquela via não foi só a minha conquista, foi além disso. Campo Liso se tornou a via mais difícil encadenada da região até então, sendo o primeiro 8c do norte do estado e eu tive a sorte de ela esperar eu evoluir para ser o primeiro a ascender.


Pedreira de Londrina 2005.

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